terça-feira, 14 de agosto de 2012

Sócrates

Aula 6 - 3° Bimestre                         



A figura de maior destaque da filosofia grega clássica foi Sócrates. Ele nada escreveu, mas andava pelas                                                                                                                                  ruas de Atenas conversando com as pessoas. Gostava de interrogá-las sobre suas convicções, levando-as a perceber o quão transitórias elas eram. Buscava um conhecimento mais elaborado, mas, quanto mais conhecia, mais tinha consciência de que sabia muito pouco. 

O Método socrático envolve um questionamento do senso comum, das crenças e opiniões que temos, consideradas vagas,imprecisas, derivadas de nossa experiência, e portanto parciais e incompletas. É exatamente neste sentido que a reflexão filosófica vai mostrar que, com freqüência, não sabemos aquilo que pensamos saber. Temos talvez um entendimento prático, intuitivo, imediato, que contudo se revela inadequado no momento em que deve ser tornado explícito. O método socrático revela a fragilidade desse entendimento e aponta para a necessidade e a possibilidade de aperfeiçoá-lo através da reflexão. Ou seja, partindo de um entendimento já existente, ir além dele em busca de algo mais perfeito, mais completo. Trata-se de um exercício intelectual em que a razão humana deve descobrir por si própria aquilo que busca. Sócrates jamais responde as questões que formula, apenas indica quando as respostas de seu interlocutor são insatisfatórias e por que o são. Procura apenas indicar o caminho, a ser percorrido pelo próprio indivíduo: é este o sentido originário do método(através de um caminho). Sua mãe que era parteira inspira o filósofo a se declarar também um parteiro, porém de idéias. Daí seu método ser caracterizado como maiêutica. O papel do filósofo, portanto, não é transmitir um saber pronto e acabado, mas fazer com que o outro indivíduo, seu interlocutor, através da dialética, dê a luz a suas próprias idéias.

            A dialética socrática opera inicialmente através de um questionamento das crenças habituais de um interlocutor, interrogando-o, provocando-o a dar respostas e a explicar o conteúdo e o sentido dessas crenças. Em seguida, freqüentemente utilizando-se de ironia, problematiza essas crenças, fazendo o interlocutor cair em contradição, e percebendo a insuficiência delas, sinta-se perplexo e reconheça sua ignorância.

Sócrates também acreditava que o conhecimento do que é certo leva ao agir correto. Por isso é tão importante ampliar nossos conhecimentos. Para ele, essa capacidade de distinguir o certo do errado estava na razão. Só agindo com a razão, acreditava ele, as pessoas poderiam ser felizes.

            Seus constantes questionamentos despertaram o ódio de muitos atenienses, perturbados em suas “certezas” e vendo ruir seu mundinho bem construído. Com mais de 70 anos de idade, ele foi preso, julgado e condenado à morte, acusado de não acreditar nos deuses da cidade e de corromper os jovens. Os atenienses quiseram dar uma lição à filosofia, tentando fugir do incômodo causado por ela.

A Seguir um trecho do diálogo platônico onde Sócrates fala sobre as acusações dirigidas a ele.

Ciência e missão de Sócrates

"Ora, certa vez, indo a Delfos, [Querofonte] arriscou esta consulta ao oráculo 

– repito, senhores; não vos amotineis – ele perguntou se havia alguém mais sábia que eu; respondeu a Pítia que não havia ninguém mais sábio. Para testemunhar isso, tendes aí o irmão dele, porque ele já morreu.

Examinai por que vos conto eu esse fato; é para explicar a procedência da calúnia. Quando soube daquele oráculo, pus-me a refletir assim: “Que quererá dizer o deus? Que sentido oculto pôs na resposta? Eu cá não tenho a consciência de ser nem muito sábio nem pouco; que quererá ele, então, significar declarando-me o mais sábio? Naturalmente, não está mentindo, porque isto lhe é impossível”. Por longo tempo fiquei nessa incerteza sobre o sentido; por fim, muito contra meu gosto, decidi-me por uma investigação, que passo a expor. Fui ter com um dos que passam por sábios, porquanto, se havia lugar, era ali que, para rebater o oráculo, mostraria ao deus: “Eis aqui um mais sábio que eu, quando tu disseste que eu o era!” Submeti a exame essa pessoa – é escusado dizer seu nome; era um dos políticos. Eis, Atenienses, a impressão que me ficou do exame e da conversa que tive com ele; achei que ele passava por sábio aos olhos de muita gente, principalmente aos seus próprios, mas não o era. Meti-me, então, a explicar-lhe que supunha ser sábio, mas não o era. A consequência foi tornar-me odiado dele e de muitos circunstantes.

Ao retirar-me, ia concluindo de mim para comigo: “Mais sábio do que esse homem eu sou, é bem provável que nenhum de nós saiba nada de bom, mas ele supõe saber alguma coisa e não sabe, enquanto eu, se não sei, tampouco suponho saber. Parece que sou um nadinha mais sábio que ele exatamente em não supor que saiba o que não sei”. Daí fui ter com outro, um dos que passam por ainda mais sábios e tive a mesmíssima impressão; também ali me tornei odiado dele e de muitos outros.
Depois disso, não parei, embora sentisse, com mágoa e apreensões, que me ia tornando odiado não obstante parecia-me imperioso dar a máxima importância ao serviço do deus. Cumpria-me portanto, para averiguar o sentido do oráculo, ir ter com todos os que passavam por senhores de algum saber.[...]

Além disso, os moços que espontaneamente me acompanham – e são os que dispõem de mais tempo, os das famílias mais ricas – sentem prazer em ouvir o exame dos homens; eles próprios imitam-me muitas vezes; nessas ocasiões, metem-se a interrogar os outros; supondo que descobrem uma multidão de pessoas que supõem saber alguma coisa, mas pouco sabem, quiçá nada. Em sequência, os que eles examinam se exasperam contra mim e não contra si mesmo e propalam que existe um tal Sócrates, um grande miserável, que corrompe a mocidade."



Platão. “Defesa de Sócrates”

Delfos: Cidade grega onde existia um templo em que Apolo dava oráculos,isto é, predizia o futuro através de sacerdotisas.
Pítia: Nome dado a sacerdotisa do templo de Delfos que formulava os oráculos.

                                                             SAPERE AUDE!!!



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